Publicidade

Publicidade

11:58
0
Revista Vadiagem
Entrevista com  O Mestre Pit bull
Nome é Davi Brito, nascido em 1983,
do Signo de Gêmeos, Natural de Salvador Bahia,


01-Revista Vadiagem - Comente sobre sua família: pai, mãe, irmãos, parentes que tiveram influência em sua vida.

Minha entrada para mundo da capoeira foi muito complicada, na realidade eu não tive apoio familiar, pois eu fui o primeiro da família a seguir um rumo diferente no caso ser capoeira.
Logo quando eu era muito jovem meus pais se separaram e acabei morando um tempo com meu pai que na realidade queria que eu seguisse seus passos, que eu trabalhasse na construção civil, como pedreiro, mestre de obras.
Nessa época meu pai tinha uma barraca de lanches, almoço e bebidas no bairro da Ondina onde trabalhávamos diariamente, eu inclusive tinha que estudar anoite juntamente com pessoas mais velhas do que eu, pois durante o dia não me sobrava tempo para mais nada somente trabalhar na barraca junto com meu pai, nessa época havia na frente da barraca uma obra civil e meu pai ficava sonhando que quando eu crescesse eu seria como aqueles peões ou quem sabe ate um mestre de obras e para que eu me familiarizasse com esse mundo eu era responsável pelas vendas e em anotar toda a consumação dos peões na barraca, que eram pagos às sextas-feiras. E assim eu passava meus dias até que eu fui chamado pela capoeira quando escutei a primeira vez na vida o som de um berimbau.

02- Revista Vadiagem Como foi seu primeiro contato com a capoeira?

Foi no ano de 1996 na época eu passava por muitos problemas na minha família, pois minha mãe que morava no Marechal Rondon, nessa época já separada de meu pai e passando por uma crise financeira muito grande, teve que morar em uma casa muito humilde e, um bairro também periférico conhecido como Vila Canaria eu passava os finais de semana com minha mãe e em um desses finais de semana eu presenciei a primeira roda de capoeira da minha vida e foi paixão a primeira vista era o mestre Fernando, um negro forte com bigode loiro, que organizava essa roda e nesse dia ele cantava assim:
Baixa no pé do berimbau camarada e me de a mão Vamos jogar capoeira com muita educação....
E no encanto da magia desses versos e no toque do berimbau, comecei fora da roda a tentar imitar os golpes dele, como rabo de arraia e meia lua que se usava muito nos anos 90, nesse mesmo dia esperei a roda terminar para conhecer o mestre Fernando, mas para minha desilusão quando estava conversando com o mestre percebi que não poderia treinar com ele, pois ele não ensinava nos finais de semana, que era os dias que eu ficava no Bairro da Vila Canaria, onde minha mãe morava e como eu trabalhava na barraca de meu pai a semana toda tive que arrumar uma forma de praticar a arte da capoeira, então descobri que na barraca próxima a de meu pai na Ondina, de um senhor que se chamava Sr. Maninho quem tomava conta era o filho dele Moacir que era capoeirista, conhecido hoje no mundo da capoeira como Mestre Coentro à época tive a sorte de conhece-lo como contramestre, fui ate ele e disse que queria aprender capoeira mas meu pai não queria pagar e nem deixar eu pratica-la e que eu precisava da ajuda dele ai comecei a ir na hora do almoço sempre lá na barraca do mestre que começou a me ensinar na grama em frente a barraca dele, mas o tempo foi passando e meu mestre me disse: - Olha como você não tem condições de pagar mensalidade vou te ensinar de graça, porém não da mais para te ensinar na rua, pois fica feio, você já está grandinho e eu sou um mestre mas você pode ir para a academia do Grupo Esquiva na Barra.
E nesse meio tempo meu pai já sabia que eu estava aprendendo capoeira e minha madrasta nunca me apoiou muito pelo contrário fazia o que estava ao alcance dela para impedir que eu aprendesse capoeira, nessa época minha mãe já tinha melhorado de vida e voltado para o bairro de Marechal Rondon então eu a procurei e falei que no final do ano quando concluísse a 5ª série iria morar com ela e que não voltaria para a casa de meu pai, se ela não me aceitasse eu iria morar na rua embaixo do viaduto do Bonocô próximo ao Ogunjá e ela percebendo que eu falava sério me disse que se eu passasse de ano eu iria, após essa conversa, um dia meu pai descobriu que eu estava fazendo capoeira, pegou uma galha de árvore do pé de amêndoa e disse olha se eu souber que você está fazendo capoeira vou quebrar suas pernas, essa foi a primeira vez que me rebelei e chorando nervoso e todo me tremendo falei que ele podia quebrar minhas pernas, porque nada nem ninguém iria impedir, pois eu iria ser um capoeira e corri para longe dele, quando chegou no fim do ano eu sai da casa dele e nunca mais voltei, mas as dificuldades só estavam começando pois a casa de minha mãe era na periferia e era muito longe da academia do Mestre Coentro eu não tinha transporte e sempre ficava me humilhando para os motoristas e cobradores, para deixar eu passar por debaixo da borboleta, depois que cresci mais um pouco ninguém me dava mais carona, mesmo com toda essa dificuldade fui batizado e peguei minha primeira corda em Pituaçu no Centro Espirita Cavaleiro da Luz.
Mas após meu batizado mais dificuldades vieram e ai camará eu me juntei com uma galera que fazia capoeira de Rua em Marechal Rondon e comecei a fazer rodas na rua com eles durante um bom tempo, até que soubemos da noticia que o grupo 7 quedas do Mestre Roberto viria dar aulas em um espaço chamado Marechal Eventos, quando fui lá ver me encantei vendo mais de 100 capoeiras todos de branco treinando ao comando de um negro forte o Mestre Roberto, aluno do Mestre Boca Rica e Mestre Ouro Negro quando cheguei em casa falei com minha mãe e ela aceitou me matricular pelo menos dessa forma eu iria parar de fazer capoeira de rua, para minha infelicidade ela só pagou um mês de matrícula tive então que ajudar o Mestre a dar aula e a limpar a academia, infelizmente após algum tempo o Mestre fechou o núcleo do Marechal permanecendo somente o núcleo do Bairro do Cabula 5 desta forma eu e alguns irmãos de capoeira íamos andando de nossas casas até a academia para treinar, dar aula aos iniciantes e participar das rodas que o mestre fazia na rua toda sexta feira, me lembro muito bem do carnê de pagamento das mensalidades, naquele tempo era 7 reais, permaneci nesse grupo até a corda verde e branco, que pela graduação do grupo 7 quedas é o grau de professor de capoeira, lá convivi com grandes mestre da minha Bahia como Boca Rica, Ouro Negro, Já Morreu, Bigodinho, Mestre Vermelho, Mestre Carlinhos Cana Brava e Mestre Mica(in memoriam) que juntos faziam um jogo espetacular nos eventos do grupo 7 quedas, os eventos sempre eram no shopping globo na localidade das Barreiras no Bairro do Cabula, passado alguns anos o Mestre Roberto decidiu parar com a capoeira, então eu e mais 6 professores pensamos em criar um grupo foi quando conhecemos o Mestre Beto Cavalo(in memoriam), ele já me encontrou pronto em termos de jogo de capoeira, eu era um verdadeiro Pitbull, bruto e brigador mas precisava viver e me manter foi ele que me educou na capoeira, me documentou e me deu caminhos para ser o educador que sou hoje, também passei por outro grande mestre na área da dança afro e da capoeira show, onde trabalhei pra ele durantes anos com o show folclórico Mestre Evandro que era sócio do Mestre Dinho da Topázio, com o mestre Evandro aprendi  a fazer shows. Devo minha formação cultural a todos esses homens.

03- Revista Vadiagem - O que levou você a praticar capoeira?

Foi amor à primeira vista, tenho certeza hoje em dia que foi um chamado de meus ancestrais para adentrar o mundo da capoeira e da cultura afro brasileira e baiana.

04- Revista Vadiagem  - Você tem apelido na capoeira? Por que esse apelido?

Sim. PITBULL, na época de minha adolescência eu jogava muito duro, treinava muito e quando entrava na roda de capoeira sempre criava problema, foi quando o Mestre Roberto do grupo 7 Quedas me falou: - Rapaz você parece aqueles cachorros loucos Pitbull e aí o nome pegou e em toda a minha trajetória sempre fiz valer o meu nome de capoeira. Mas hoje estou mais tranquilo rsrsrs.

05- Revista Vadiagem - Qual o momento mais marcante em sua vida de capoeirista?

Olha graças a deus e aos orixás já tive muitos momentos marcantes vou citar alguns deles: eu fiquei muito feliz em participar do livro de mapeamento da capoeira no centro histórico de salvador com todos os mestre da velha guarda da Bahia foi como se meu trabalho tivesse se imortalizado naquele momento, pois daqui a 50 anos pessoas de todos os países terão esse livro e saberão quem foi o Mestre Pitbull do Grupo Sambuê Capoeira.
Outro momento importante foi conseguir sair da periferia e desenvolver um trabalho com a capoeira dentro do Pelourinho e Centro Histórico que é muito difícil para os capoeiristas da periferia.
Um outro momento marcante foi quando comecei a desfilar na avenida no carnaval de salvador e ter a felicidade de levar a capoeira para os palcos com ícones da musica baiana.
Outro momento marcante foi em 2010 o nascimento de minha filha Maria Júlia
E finalmente um dos grandes momentos na minha vida e na minha trajetória da capoeira foi quando com muita dificuldade conseguir registrar legalmente a instituição Sambuê Capoeira.

06- Revista Vadiagem - Você tem outra profissão além da de professora de capoeira?

Sim sou produtor cultural e coreógrafo, temos dentro de nossa instituição uma companhia de Show Folclórico Sambuê onde levamos com muito respeito e dignidade a cultura da Bahia para grande eventos em hotéis navios e etc.

07- Revista Vadiagem - A qual grupo de capoeira você pertence?  

Sou fundador e Mestre da Instituição de Capoeira Sambuê uma instituição cultural que visa levar a capoeira àqueles que mais precisam como forma de educação e como geração de renda. Me iniciei no grupo Esquiva do Mestre Coentro, mas pelos motivos já explicados anteriormente tive que me afastar, logo após fui para o grupo Sete Quedas do Mestre Roberto, por último fui para o grupo Cordão de Prata do saudoso Mestre Beto Cavalo.
08- Revista Vadiagem - Comentem um pouco sobre o seu trabalho com a capoeira?

Faço viagens ministrando cursos em eventos fora da Bahia dando cursos workshops e palestras, desenvolvo trabalho social com a capoeira em lugares de conflitos sociais e levo a capoeira para todos como educação e fonte de renda tenho alunos em toda Bahia e exterior e desenvolvo um dos melhores Show Folclórico da Bahia

09- Revista Vadiagem -Fale um pouco sobre o seu mestre?

Meus mestre foram tudo em minha vida do durão ao mas calmo, me ensinaram, me guiaram e me deixaram preparado  para o mundão a fora.

10- Revista Vadiagem -Como é sua rotina diária?

Faço viagens ministrando cursos em eventos fora da Bahia, dando cursos workshops e palestras. Dou aulas nas comunidades e também faço ensaios do nosso Show Folclórico, vou em alguns evento e seminários e palestras tudo que envolva cultura e Capoeira.

11- Revista Vadiagem -Que trabalho você realiza no momento?

Atualmente desenvolvo o trabalho como presidente fundador e Mestre da Instituição SAMBUÊ levando a capoeira para quem mais precisa e desenvolvo meus trabalhos de Show Folclórico levando o melhor da Bahia para os palcos do mundo

12- Revista Vadiagem -Qual é sua filosofia de vida? VIVER SEMPRE COM METAS E SONHOS A REALIZAR !

13- Revista Vadiagem - O que a capoeira representa em sua vida?

Tudo que eu sou e que ainda vou ser!
14- Revista Vadiagem - Qual a sua opinião sobre a mulher capoeirista?

Para mim é muito interessante pois a mulher traz a parte feminina para a capoeira, tais como organização em eventos, decoração e a beleza feminina

15- Revista Vadiagem -você acha que a mulher é bem aceita num meio considerado masculino?

A mulher na capoeira já foi muito discriminada mas hoje em dia se a mulher o mesmo valor dos homens claro que é um pouco puxado pois a galera acha que todas mulheres capoeiras são obrigadas a namorar com capoeiras mas com ginga jogo de cintura, respeito e sempre se valorizando as mulheres estão mostrando para que vieram

16- Revista Vadiagem -Ainda percebe algum preconceito com relação ao sexo feminino na capoeira?

Hoje em dia menos, mas a galera não deixa a mulher jogar e quando joga canta: o mulher com mulher só jogar mulher, isso tem que acabar as mulheres tem capacidade de fazer também um belo jogo hoje temos brasileiras muito boas na capoeira
17- Revista Vadiagem -Como é sua alimentação?
(Hoje é um pouco melhor, pois minha esposa me regula nessa parte de alimentação.)
18- Revista Vadiagem -Quais são suas pretensões com relação ao futuro?

Fazer novos capoeiras que vivam para capoeira e que leve a capoeira da Bahia para o mundo com orgulho e de poder deixar meu nome ainda mas na historia da capoeira da Bahia e do mundo

19- Revista Vadiagem -Uma alegria e uma tristeza na capoeira?

Alegria de o mundo me conhecer através da capoeira.
Tristeza de você criar muitos alunos dentro de sua casa e depois ser traído, ou seja o que me deixa bastante triste é a traição no mundo da Capoeira.

20- Revista Vadiagem -Sua mensagem aos capoeiristas.

Minha mensagem é: Não desistam de seus sonhos e só ouçam as pessoas que te falam mensagens positivas, aqueles que dizem: Você não vai conseguir... corra deles! Foi assim que hoje sou quem eu sou!
Capoeiras procurem ter ética na capoeira porque hoje em dia quando um Mestre reclama com um aluno e aplica uma suspensão,  outros “grupos” abraçam aquele aluno rebelde que está naquele momento tomando sua suspensão para repensar no seu erro e nem sequer esses ‘grupos’ perguntam o porque que o mestre puniu o aluno, qual a real intenção do mestre em aplicar aquela suspensão mas de uma forma desrespeitosa chamam esse aluno e ainda passando por cima de qualquer tipo de ética profissional só no pensamento de inchar, de conseguir mais alunos e tentar disfarçar a sua incompetência em formar alunos e por esse motivo eles têm essa necessidade de ‘roubar’ alunos dos outros e aproveitando-se de um momento de fraqueza dos mesmos acaba levando-os para outros caminhos afastando-os de seu Mestre de uma forma desrespeitosa. Temos que retornar os tempos antigos onde os Mestres de Capoeira eram respeitados e considerados em suas decisões, tem lugares que viajo para ministrar cursos que o respeito é admirável e faz o capoeirista se sentir feliz e realizado em ter dedicado toda a sua vida a arte da capoeira, mas existem lugares que os alunos não respeitam, não valorizam, os professores, seus contramestres, seus mestres e isso me deixa muito triste, por isso hoje em dia seleciono evento que vou, não me importa que pensem que estou famoso e rico, quem passou fome foi eu, temos que nos valorizar e dizer: Quer vencer na capoeira? Tenha paciência, pois ela não é luta de modismo ela é luta de libertação e resistência e deixe a capoeira te levar ela tem vida própria axé camará!

RÁPIDAS NA CAPOEIRA:

Livro: o meu em breve  
CD: Tony Vargas, Mão Branca, Lua Negra e Barrão
Golpe: Martelo
Música: Menino do Mato.  
Mestre:
Os que admiro Coentro, Roberto, Beto Cavalo, in memoria, Índio de Natal ,Tonho Matéria, Boa gente, Gení,
Boca Rica, Pelé da Bomba,
Mestre Novo: EU!
Estilo de capoeira: O que o berimbau mandar jogar!
Destaque na capoeira: Mestres Bimba e Pastinha
Lugar: Brasil e África
Ninguém merece: Traição e Covardia
Uma boa roda: onde tiver axé energia emoção e muitos capoeiristas.


Entrevistado por Cheng Capoeirista

Diretor e Colunista oficial da Revista Vadiagem 
e-mail: revistavadiagem@gmail.com chengcapoeira@gmail.com

0 comentários:

Postar um comentário

Publicidade

Publicidade